Contadora de histórias / Storyteller

UM ANO DE ALEMANHA

"Vocês estão tão bem, né? Com certeza já estão completamente adaptados!" diz o décimo fulano. Ah, as redes sociais! Como são lindas e sorridentes: viagens, paisagens, sorrisos e mais sorrisos. Quem nunca foi tentado a acreditar que alguém tem mesmo a vida perfeita das fotos, que atire a primeira pedra. Mesmo eu, que gosto de ser transparente até nas redes sociais, só quero mostrar as partes legais e bonitas da minha vida - no máximo você encontrará fotos engraçadas com amigos ou fotos menos produzidas da minha família. Obviamente, fotos chorando de frustração sobre meus livros de faculdade, fotos de crises de raiva durante o trabalho ou fotos de mim deitada de exaustão na minha cama não serão encontradas.

E, querido fulano, não posso dizer que você está completamente errado: realmente, eu e minha família estamos bem e já estamos mais adaptados no país da batata. Mas, assim como luto não é superado em um ano e diplomas levam tempo para serem conquistados, uma mudança é cheia de exigências.
Você precisa de coragem para largar sua zona de conforto: a família, os amigos, a casa, a cultura, a comida e tudo o mais que você conhece; para se sentir errado em um lugar novo.
Você precisa de determinação para lembrar-se do porquê da sua decisão quando as crises de saudade e a vontade de desistir chegarem.
Você precisa de otimismo para não afundar nas ondas de incerteza que virão.
Você precisa de resiliência para engolir o choro e tentar de novo quando erra - e você não vai errar pouco, sinto dizer.
Você precisa de ânimo e paciência para achar as coisas certas de novo: lojas que você gosta, comidas parecidas com as que você comia e, até mesmo, novos médicos.
Você precisa de força de vontade (e mais umas doses de paciência) para entender as pessoas e a cultura novas à sua volta e para entender-se também.
Você precisa de persistência quando tudo parecer estar contra você. No final, tudo dá certo, você só precisa aguentar até o final.
Eu poderia continuar pensando e escrevendo uma lista de todos os requisitos de uma mudança, mas você vai descobri-los sozinho se passar por uma =)
Sobretudo, você precisa de apoio de outrem. Fale com amigos, família, outros estrangeiros - pode me escrever também (gabrielleheinrichs@gmail.com).

Portanto, como a mudança já exige demais, parei de dar bola às exigências de outros e comecei a pegar mais leve comigo mesma. Um ano é pouco tempo, afinal: os dias, semanas e meses passam voando; e uma mudança é uma carga grande para lidar.
"Sentir-se em casa" envolve muito mais coisas do que, realmente, uma casa e um endereço. É difícil explicar a sensação de ter meu coração partido no momento em que vi a minha casa no Brasil de novo durante as duas semanas que estive lá, ou entender as lágrimas que não consegui controlar seja quando entrei no meu antigo quarto, seja quando chegou a hora das despedidas. Também é difícil de prever quantos anos passarão até que eu consiga ir e voltar do Brasil sem chorar ou até que eu me identifique completamente com a cultura alemã.

Em todos os momentos desse um ano que passou desde que eu entrei no avião, entretanto, Deus tem cuidado de mim e da minha família e tem me tornado uma contadora de histórias - assim como diz essa linda música da Morgan Harper Nichols que uma amiga me enviou. Além disso, com todas essas experiências emocionalmente muito exigentes, Ele tem me lembrado que a minha casa será, para sempre, o colo dEle; indiferentemente das minhas coordenadas no globo.

___________________________________

ONE YEAR IN GERMANY

"You guys are so good, huh? I'm sure you're already fully adapted," says the tenth guy. Oh, the social networks! How beautiful and smiling they are: trips, landscapes, smiles, and more smiles. Who has never been tempted to believe that someone really has the perfect life of the photos, let throw the first stone. Even I, who like to be transparent even in social media, just want to show the nice and beautiful parts of my life - maybe you will find funny photos with friends or less produced photos of my family. Obviously, photos crying out in frustration over my college books, photos of angry crises at work or photos of me lying exhausted in my bed will not be found.

And, dear guy, I can't say you're completely wrong: really, my family and I are fine and we're already better adapted in the potato country. But just as grief is not overcome in a year and diplomas take time to be earned, moving to another country is full of demands.
You need the courage to leave your comfort zone: family, friends, home, culture, food and everything else you know; to feel wrong in a new place.
You need determination to remember why you made your decision when the crises of homesickness and the will to give up come.
You need optimism not to sink into the waves of uncertainty to come.
You need the resilience to swallow the tears and try again when you make a mistake - and you won't make just a few, I'm sorry to inform.
You need the energy and patience to find the right things again: stores you like, food that looks like the ones you ate, and even new doctors.
You need willpower (and a few more doses of patience) to understand the new people and culture around you and to understand yourself too.
You need persistence when everything seems to be against you. In the end, everything works out, you just have to hold on until the end.
I could go on thinking and writing a list of all the requirements of moving, but you'll find out for yourself if you go through it =)
Above all, you need someone else's support. Talk to friends, family, other foreigners - you can also write to me (gabrielleheinrichs@gmail.com).

So, as moving is already too demanding, I stopped caring about the demands of others and started to take it easy on myself. A year is a short time, after all: days, weeks and months fly by; and moving is a big burden to deal with.
"Feeling at home" involves much more than just a house and an address. It's hard to explain the feeling of having my heart broken when I saw my home in Brazil again during the two weeks I was there, or to understand the tears I couldn't control neither when I entered my old room nor when it was time for goodbyes. It's also hard to predict how many years will pass before I can travel to and back from Brazil without crying or until I fully identify with German culture.

In all the moments of this year that has passed since I entered the plane, however, God has taken care of me and my family and has been making me a storyteller - just like this beautiful song (by Morgan Harper Nichols) a friend sent me describes. Also, with all these emotionally very demanding experiences, He has reminded me that my home will forever be in His hand; regardless of my coordinates on the globe.


28.08.2018

Comentários

Postagens mais visitadas